domingo, 30 de dezembro de 2012

2013


O ano de 2012 foi de grandes avanços e realizações para o NPEC. Fechamos parceria com a Faculdade São Bento da Bahia- FSBB e realizamos o II Colóquio Ofício do Historiador junto com a Pós Graduação desta Instituição e tivemos convidados que muito contribuíram para o debate acerca dos Estudos Culturais, enriquecendo, assim, o evento e a mesa organizada pelo NPEC. Realizamos nosso “Trilhas Culturais” fechando o evento e o ano com o “Na trilha com Gonzagão”, evento realizado no Espaço Castro Alves na Livraria Saraiva, do Salvador Shopping, que reuniu quatro das nossas cinco linhas de pesquisa para homenagear e compreender a importância e a influência que o Rei do Baião tem para a cultura nordestina e brasileira. Abrimos nosso edital permanente para publicação da coluna “Culturas” no nosso blog que tem recebido textos de excelente qualidade científica fazendo com que o blog conte com mais de três mil acessos. O Grupo do NPEC no Facebook (https://www.facebook.com/groups/npeculturais/) está sempre em movimento com temas ligados aos mais diversos aspectos da cultura e da sociedade que fomentam debates enriquecedores contando com a contribuição dos membros do grupos.
Enfim, tivemos um ano maravilhoso, recheado de excelentes experiências, e isto foi possível com a contribuição de muita gente e o NPEC agradece a todas/os que estiveram conosco ao longo de 2012 e desejamos que 2013 chegue trazendo possibilidades de realizações para todas.


Continuem acessando nosso blog e contribuindo conosco!


Feliz Ano Novo!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012



O Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais tem o prazer de convidá-l@ para participar do Trilhas Culturais: Na Trilha com Gonzaga. Um tarde de debates das nossas  linhas de pesquisas: Artes, Comunicação e Contemporaneidade; Educação e Políticas Públicas; Movimentos Sociais e Relações Étnicas e Patrimônio Cultural, Memória e Religiosidade a partir da obra deste grande artista nordestino que cantou o Nordeste e encantou o Brasil com a história do sertanejo.

terça-feira, 20 de novembro de 2012


CONSCIÊNCIA E RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL

Por Mayana Rocha Soares[1]

Por que será que não vemos negros e negras em altos postos de direção no país? Por que será que não percebemos que a maior quantidade de pobres e miseráveis, em todo o Brasil, segundo dados de 2009 do IBGE, é constituído pela população negra? Por que será que o povo negro só é exibido na TV para discutir a questão racial? Por que será que jovens negros e negras estão nas escolas públicas, as quais, não coincidentemente, são precárias e não oferecem uma educação de qualidade? Por que? Por que? Você já parou pra pensar nestas questões?

O dia 20 de novembro foi instituído como feriado facultativo nos estados brasileiros, um dia que nos convida, sobretudo, a refletir. A data lembra o dia da morte de Zumbi dos Palmares, herói negro na luta contra a escravidão no Brasil. A reflexão que precisamos fazer, não apenas nesta data, mas todos os dias, é acerca dos problemas, até hoje, enfrentados pela população afrodescendente deste país.

Entretanto, é ainda mais válido comemorar as conquistas e vitórias que tivemos ao longo desses anos. Melhores condições de vida, maiores salários, criminalização do racismo, instituição da Lei 10.639/2003 nos Parâmetros Curriculares Nacionais, tornando obrigatório o ensino da História e Culturas da África e dos africanos, as lutas e a importância do povo negro na construção do povo brasileiro, são algumas dos importantes triunfos da sociedade brasileira.

Desse modo, é importante ressaltar que tais conquistas compõem não apenas a vitória do povo negro, mas sim o sucesso da cidadania e da democracia. Não se pode negra que muito ainda há que se conquistar, e, por isso, muita luta ainda há por vir, mas, no entanto, como diria Stuart Hall (2003), continuemos a “deslocar as posições de poderes e democratizá-las”.

Referências
IBGE. http://www.ibge.gov.br/home/

HALL, Stuart. Da diáspora. Identidades e Mediações culturais. Belo Horizonte :
Editora UFMG, 2003.


[1] Especialista em Estudos Culturais, História e Linguagens. Possui graduação em Letras com Língua Espanhola. Atualmente, é professora, técnica educacional, pesquisadora no Núcleo de Pesquisa Estudos Culturais (NPEC) e participa do grupo de pesquisa Cultura e Sociedade (CUS). myrs_84@hotmail.com.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

DO FRANKENSTEIN AO CIBORG: TECNOLOGIAS PÓS-HUMANAS

Por Mayana Soares[1]

Esta reflexão precisa começar a partir de alguns questionamentos: existe o “sujeito” puramente humano? Há uma fronteira que separa humanidade e natureza? É possível existir “pureza” na existência humana? Humano e máquina possuem existências distintas?

Marca-passo, lentes de contato para aumento visual, próteses que substituem membros, silicone, tecido humano desenvolvido a partir da nanotecnologia, chip de identificação biométrica... A existência dos clones, dos ciborgues, dos híbridos, etc, tem colocado em xeque a “soberania” humana e relevado que não há pureza na experiência humana, nem pós-humana. Dentre as grandes revoluções que marcaram os séculos 20 e 21, sem sombra de dúvidas, a revolução dos ciborgues foi uma das mais consideráveis. A relação entre “seres humanos” e “máquinas” sempre existiu e nunca foi tão evidente como agora. A concepção de “sujeito”, supostamente superior a tudo o que se denomina “não-humano”, tem subjulgado toda e qualquer forma de existência humana que não se enquadre em suas categorias funcionais e ontológicas.

A severa divisão imposta entre a humanidade e tecnologia tem contribuído para a criação de discursos, amparados pela ciência, medicina e pelo direito, que aprisionam corpos e mentes numa estrutura fixa, cuja ruptura é, geralmente, considerada anormal, desviante, abjeta.
Gilles Deleuze, filósofo francês, afirma que a existência humana é atravessada por tudo o que existe (pessoas, plantas, energia, animais, máquinas, etc, etc) e, por isso, considera que o corpo é uma máquina, mas não numa perspectiva funcionalista, e sim, no sentido de permitir variadas conexões, pois permite o fluxo de desejos e de intensidades. Também, Donna Haraway, feminista e estudiosa da tecnociência, concorda que o ciborgue é a encarnação humano + máquina, que tem contribuído para repensar a noção essencialista do “ser humano”. Segundo esta autora, “A tecnologia não é neutra. Estamos dentro daquilo que fazemos e aquilo que fazemos está dentro de nós. Vivemos em um mundo de conexões – e é importante saber quem é que é feito e desfeito.”.

Se a existência humana é criada e recriada a todo o momento não é possível crer em unidades separadas (sujeitos), com uma existência superior e independente de tudo o mais que há. Uma das críticas aos pós-humanos, humanos-máquinas, é que a sua experiência é uma imitação da vida humana. Mas, em que medida a experiência humana não é uma imitação, criação ou recriação de outrem?

As experiências pós-humanas (ciborgues, seres trans, clones, híbridos, entre outros) têm contribuído para repensar e questionar pressupostos tão bem consolidados ao longo dos tempos da inevitabilidade da superioridade humana em detrimento de outras possibilidades de existência. Com as inovações tecnológicas, é possível remodelar corpos, reinventar a humanidade e ultrapassar a barreira fixa que nos limita a uma existência desconectada e sem pulsação.

Assim, deixo as últimas linhas para Donna Haraway, que nos permite mais uma reflexão:
“Se as mulheres (e os homens) não são naturais, mas construídos, tal como um ciborgue, então, dados os instrumentos adequados, todos nós podemos ser reconstruídos”.


Referências

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquisofrenia. v. 2. São Paulo: Editora 34, 1995. Coleção TRNS.

HARAWAY, D. Antropologia do cirborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.



[1] Especialista em Estudos Culturais, História e Linguagens. Possui graduação em Letras com Língua Espanhola. Atualmente, é professora, técnica educacional, pesquisadora no Núcleo de Pesquisa Estudos Culturais (NPEC) e participa do grupo de pesquisa Cultura e Sociedade (CUS). myrs_84@hotmail.com.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012



A Faculdade São Bento da Bahia - FSBB e o Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais - NPEC os convidam a participar do II COLÓQUIO OFÍCIO DO HISTORIADOR: Os Estudos Culturais e a Pesquisa em História. Paticipe!
INSCRIÇÃO CLICANDO AQUI , ou na aba do II Colóquio logo acima.  
Acesse CLICANDO AQUI a programação completa
 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Publique seus textos no Blog do NPEC - Núcleo de Pesquisas em Estudos Culturais. 
Acesse agora o Edital Culturas aqui neste blog.

sábado, 29 de setembro de 2012

“FELIZES OS QUE CREEM, SEM TEREM VISTO.”[1]


Simone dos Santos Borges[2]

O filme “O Corpo” (The Body), dirigido por Jonas McCord e estrelado por Antonio Bandeiras e Olivia Williams, lançado no ano de 2001, traz a tona uma discussão sobre religião (pensando esta enquanto uma instituição dotada de dogmas e regras a serem seguidas), fé (manifestação da vontade do indivíduo sobre o fenômeno sobrenatural e para este sagrado, portanto inconteste), política e identificação com o patrimônio cultural construído e difundido pela tradição através dos séculos.

A partir da descoberta arqueológica de um corpo crucificado ao estilo romano datado, aproximadamente, do ano de 32 d.C. em Jerusalém, cientistas e religiosos travam uma batalha sobre as questões que envolvem o maior milagre do cristianismo, para os fiéis dessa religião: a ressurreição de Jesus Cristo.

O fato do filme se passar em Jerusalém nos permite refletir sobre a importância desta cidade para as três grandes religiões, denominadas de reveladas, Islamismo, Judaísmo e Cristianismo. Uma cidade Santa, para ambos os grupos religioso, e também, local que suscita a emergência do poder, da eminência de um Estado Teocrático, e da afirmação da predilescência política, de uma das três grandes religiões no cenário internacional, do ponto de vista da revelação da verdade sobre a fé, é pano de fundo neste filme.

Destruir ou não a fé cristã, representada no filme pela sua vertente católica, é a discussão central, para a Igreja Cristã, nunca houve e nunca haverá um corpo, pois tradições são criadas, recriadas e desaparecem de acordo com os desejos e ansiedades sociais daqueles (as) que as criam.

 A instituição e a fé se confundem diversas vezes nessa representação fílmica, para as personagens que representam as instâncias do poder político-religioso:
 “isto não vai ser o fim do Cristianismo ou da Igreja Católica... a religião não se baseia num sistema racional de provas, sobrevive pela necessidade humana. Se apresentarmos provas de que Cristo não ressuscitou, os que acreditam que sim, não acreditaram em nós. Alguns podem desaparecer, mas sabes que mais? Acho que o Cristianismo vai sobreviver.”
Tal afirmação, apresentada no longa aqui analisado, acredito ser colocada desta maneira, pelo fato do fenômeno da fé, por mais que beba da fonte institucionalizada, ser algo inerente as necessidades do individuo, que por vezes perpassa as instâncias coletivas.

Assim, para o fiel não há necessidade de visualizar as implicações epistemológicas que envolvem a ressurreição de Cristo, cabe a ele apenas entender que este intercede por ele (a) nas horas da necessidade, se não for nessa vida, será em outra. As pessoas precisam de curas, esperanças, milagres, respostas, etc. por isso, buscam as religiões. Que exercem este papel de conforto de maneira moral, lícita e aceitável por todos.

Outro ponto relevante é a discussão que se forma em torno da bíblia, a própria ciência a admitiu como um revelador da verdade, em todo filme, assim como na nossa vida cotidiana a prova da existência de Cristo se dá pelas escrituras dos evangelhos, tal como só temos conhecimento de Sócrates através de Platão. Muitos dos que se dizem cientistas negariam de pronto a veracidade das informações ali contidas, mas para os historiadores da antiguidade é um livro que contém, informações sobre a fundação dos Estados, técnicas de agricultura, comércio, pecuária, enfim, informações sobre o processo de civilizatório da humanidade, sobre as invenções mais remotas. Portanto, válido e justo, tomar como premissa as informações ali contidas sobre a vida e morte, período e época em este viveu.

Assim, cabe encerrar esse debate com as mesmas reflexões que o pe. Gutierrez (personagem principal) chega ao final desse belíssimo longa metragem:

  • Ter o Estado de Israel envolvido em algo tão potencialmente perigoso para a Fé Cristã poderia ter sérias repercussões para nós (discurso das personagens palestinas).
  • Este não é o corpo de Cristo (discurso da igreja cristã católica).
  • Quando o Vaticano reconhecer uma Jerusalém una, como capital de Israel... as ossadas serão libertadas (discurso das personagens judias).
  • Deus não tem lugar na política (Pe. Gutierrez).
  • Cristo disse que a verdade liberta. A verdade libertá-lo-á, Matt (discurso da ciência).





[1] João Cap. 19, Vs. 29
[2]Especialista em História da Bahia, possuí graduação em História, é graduanda em Ciências Sociais, integrante do Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais, é professora da educação básica da rede particular de ensino em Salvador, e atua como bolsista PIBIC, sob orientação da Profª Drª Paula Barreto, do projeto de pesquisa "Mecanismos de desigualdade adscritiva, cultura e ensino superior no Brasil: os casos da Universidade Federal da Bahia e da UNIFACS” na UFBA.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ELEIÇÕES E INSTITUIÇÕES: EFEITO CASCATA


Por Marcelo Bloizi Iglesias

             Nesse ano de 2012, o Jogo do Bicho comemora seus 120 anos de existência. No início do período republicano o jardim zoológico, espaço de divertimento criado na década anterior no bairro de Vila Isabel na então capital do Império, passava por uma crise pelo fato de o seu administrador, o Barão de Drummond, não tirar lucros de tal empreendimento. Para tanto, conseguiu uma licença para a exploração de uma loteria dentro do seu negócio, e essa daria mais certo como empresa do que a própria atividade fim que fora o zoológico.

            Fato é que tal divertimento chegou a Salvador ainda na última década do século XIX como revelam notícias de periódicos de 1899, e como no Rio de Janeiro, sofreu com a perseguição durante (praticamente) toda a sua existência. Os ideais positivistas eram a ideologia predominante na sociedade oitocentista brasileira, e de forma alguma a população pobre, predominantemente negra e/ou de classes subalternas poderia se acostumar à dependência da sorte no jogo para ganhar a vida. A educação para o trabalho era a tônica daquela sociedade e nesse diapasão o Jogo do Bicho não durou muito tempo na legalidade, entre sua liberação e repentino sucesso até a sua perseguição houve um intervalo de apenas três anos.

            Durante toda a sua história, o Jogo do Bicho ganhou muitos simpatizantes, sendo lembrado em diversos momentos importantes de nosso país no século passado como uma representação da cultura popular e até questionado entre alguns intelectuais se não faria parte do nosso folclore. A figura do bicheiro, associada à do malandro, apareceu no cinema, nas novelas, no teatro, na música, na literatura sempre com uma construção em torno dos espaços populares da sociedade. Interessante como se forjam imagens e são criadas as representações numa coletividade. Todavia, estão sendo desconstruídas atualmente com o caso “Cachoeira” e o efeito cascata (com o perdão do trocadilho) sobre o Congresso Nacional, os partidos políticos, a polícia, grandes conglomerados de empresas nas quais o “manda-chuva” era envolvido, revelam o poder das instituições; e que Teoria da Conspiração é fato para os ingênuos que não querem enxergar que a falcatrua é geral no nosso país.

            Remeto nesse momento à Foucault e a maneira como ele interpreta o poder das instituições numa sociedade, e o Jogo do Bicho se fortaleceu em seus 120 anos se configurando como mais uma instituição, com normas próprias, com significância social e econômica na malha urbana das grandes metrópoles brasileiras. Um poder político muito grande está nas mãos dos bicheiros. O advento da Paratodos na década de 1980 padronizou a empresa em âmbito nacional, fazendo os banqueiros do jogo entrarem no rol dos bandidos de colarinho branco, mas ainda com o preconceito atinente à prática empresarial então tipificada como contravenção, já agora como crime em razão da inserção do Jogo do Bicho ser considerado lavagem de dinheiro.

            Hoje nos vemos estupefatos com as notícias do envolvimento do Congresso Nacional com os contraventores e troca de influências, favores e mesadas recíprocas. Não é de se assombrar, sabemos que o Congresso Nacional é um jogo de interesses das instituições, bem como os ministérios, a Câmara dos Deputados, a Câmara dos Vereadores, as secretarias de governo e municípios. Lembro ainda que além dos julgamentos do mensalão e do caso Cachoeira, estamos em ano de eleição e as mesmas instituições estão bancando campanhas milionárias (que todos sabemos) para serem favorecidas, e se a mídia quiser noticiarão as fraudes e crimes que essas cometerão nos próximos anos. Então, nas eleições 2012 façam suas apostas, pois as instituições já fizeram as suas...



Referências:
BRASIL. Lei das Contravenções Penais. 1941;
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder/ Michel Foucault; organização e tradução de Roberto Machado – Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979;
MAGALHÃES, Felipe. Ganhou, Leva!: o jogo do bicho no Rio de Janeiro (1890-1960)/ Felipe Magalhães – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O DESEJO RIZOMÁTICO EM NELSON RODRIGUES


 Por Mayana Soares [1]

“-Eu não sou culpada, Carlinhos, eu juro, é mais forte do que eu – De fato, havia no mais íntimo de sua alma uma inocência infinita”[2]. Nas obras de Nelson Rodrigues o que estava sempre na pauta do dia era o desejo. Sempre o desejo. O desejo rodrigueano não se limita a satisfação moral nem ao prazer, posto que é fluxo, processo, movimento e, por isso, rizomático, sem começo nem fim, apenas meio; sem centro, sem partida nem chegada, apenas fruição. O desejo, como rizoma, é a potência necessária para a libertação sexual e de todas as formas de fascismos. 


Sendo assim, as antigas formas binárias e rígidas da encarnação do desejo, a partir dos modelos socialmente aceitáveis (ou não) pela sociedade brasileira de meados do século XX, são amplamente questionadas na literatura de Nelson Rodrigues. “Santa” x “Leviana”, “Homem-Macho” x “Maricas” são algumas das territorialidades que foram estremecidas em suas tramas, valendo-se da ambivalência para confrontar padrões morais e (re)criar novas linhas de fugas.


Em uma entrevista cedida a Otto Lara Resende, Nelson Rodrigues sentencia: “A adúltera é a mais pura de todas as mulheres porque está salva do desejo que apodrecia nela”. O desejo, como potência criadora, desterritorializa o estigma e desloca a “adúltera” para além do universo das convenções e da falência do desejo.

Este posicionamento do autor pode ser visto em muitas de suas obras. Em uma das crônicas da coluna A vida como ela é..., “O homem que não conhece o amor”, temos a descrição de um homem que, após ter perdido sua esposa “casta” e “de honra inabalável” descobre o amor, o impulso e a vitalidade com Neusa, mulher independente e infiel, que lhe descortina as possibilidades do desejo, e que, principalmente, não se limita nem se poda.Outra importante crônica é “A esbofeteada”. Nesta obra, Silene, a namoradinha desenhada a ser “santa”, implora ao namorado por uma tapa e seu desejo não é limitado pela moral da época. Apanhar do namorado era seu ímpeto. Por esta tapa, ela se redesenha, transita entre os mundos “da santidade” e “da perdição”, busca incessantemente linhas de fuga, produzindo novas rotas de escape.

Por fim, “Dama do Lotação”, obra rodrigueana amplamente divulgada e disseminada por outras mídias. Nesta, encontramos o desejo que se ramifica pelos lotações cariocas. Solange, a esposa “casta”, é descoberta por seu marido. Este, estupefato, ouve o relato de Solange de suas saídas à tarde para pegar o lotação e se entregar ao primeiro homem que encontrar. O marido não aguenta tal humilhação e decide morrer para o mundo. Solange, como uma boa esposa, vela o marido toda noite e, todas as tardes, retorna ao lotação e ao fluxo do seu desejo.

Este ano comemoramos o centenário de Nelson Rodrigues, e nada mais justo do que homenagear a genialidade, a acidez e o legado literário deixado por este autor, que nos permitiu, e ainda nos permitem, viajar e nos desterritorializar. Independente das opiniões diversas, e por vezes, contrárias, acerca de sua obra, este escritor propõe uma cartografia do desejo, cujas conexões permitem múltiplos contatos e encontros. Como poucos escritores brasileiros, conseguiu expressar em sua arte tensões sociais e familiares, e discutir temas considerados “tabus” ou marginalizados de maneira forte, pungente, urgente, dramática, visceral e necessária.





[1] Especialista em Estudos Culturais, História e Linguagens. Possui graduação em Letras com Língua Espanhola. Atualmente, é professora, técnica educacional, pesquisadora no Núcleo de Pesquisa Estudos Culturais (NPEC) e participa do grupo de pesquisa Cultura e Sociedade (CUS). myrs_84@hotmail.com.
[2] Este trecho corresponde um fala da conhecida crônica rodrigueana Dama do lotação, proferida pela personagem Solange, uma das crônicas televisionadas em A vida como ela é, de 1996, media-metragem, encarnada pela atriz Maitê Proença.

terça-feira, 31 de julho de 2012

PUBLIQUE NA COLUNA 'CULTURAS'


Está aberta a temporada de publicações da 1ª coluna do Blog NPEC. A coluna 'CULTURAS' visa reunir mini-textos de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento que, de alguma maneira, permeiem o âmbito dos Estudos Culturais. Para acessar o Edital e saber mais, clique em COLUNA CULTURAS.

sexta-feira, 20 de julho de 2012





O Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais (NPEC) nasce em 2010, na cidade de Salvador. Hoje, vinculado a Faculdade São Bento da Bahia conta com diversos profissionais das ciências humanas, os quais tentam compreender as culturas enquanto movimento dinâmico, na qual esta envolve as diversas relações sociais presentes no cotidiano, tais como as artes, a religiosidade, as formas de sexualidade, a relações etnicorraciais dentre outros temas, ainda vistos como marginais. Participe você também!
 
Para participar do evento basta CLICAR AQUI e preencher a ficha de inscrição


Participe de nossas redes sociais: 






quarta-feira, 4 de julho de 2012

POR QUE VADIA?



Quando jogada no Google a palavra “vadia”, os sinônimos que aparecem são: vagabunda, puta, galinha, biscate, sapeca, desocupada, piranha, kenga, leviana, prostituta. Também, quando procurado seu significado aparecem respostas do tipo: “quem não possui uma ocupação”, “quem se prostitui” ou “mulher que se oferece para homens”. Estas apropriações não nos são estranhas, pois permeiam o nosso imaginário. Representações que binarizam e hierarquizam os sujeitos, como “moça direita” versus “vadia”, tornam estas últimas, as quais são identificadas como “vadias”, seres menores, não possuidoras de direitos, não cidadãs, e, por isso, disponíveis para qualquer tipo de abuso ou crime.


Em 2011, na cidade de Toronto, no Canadá, um policial sugeriu que mulheres que vestem roupas curtas “são consideradas vadias” e estão incitando nos homens o direito de estuprá-las. A partir deste episódio, o termo “vadia” foi reapropriado como uma contestação, um insulto que desse voz e vez às mulheres em todo o mundo, cuja autoridade se traduz como um grito: SOU VADIA, E DAÍ?, e a Slut Walk, ou Marcha das Vadias, se espalhou pelo mundo e tornou-se um protesto internacional, a fim de contestar discursos como estes, que aprisionam as mulheres num ideário de “santidade” e “castidade”, cerceando seu desejo, castrando suas vontades e sua existência.

Como as experiências da Marcha das Vadias, no Brasil, foram bem diversas, pois foram organizadas em quase todo território nacional, demandas específicas foram adicionadas às reivindicações locais e um movimento que, inicialmente, pretendia reagir contra um discurso machista, tornou-se um amplo movimento que abarca demandas em prol de uma sociedade humana liberta do machismo, do racismo e da homofobia.


2 de julho de 2012, feriado estadual em Salvador, Independência da Bahia. Uma segunda-feira, bairro da Lapinha, muitas pessoas. Mulheres vestidas, despidas, pintadas, maquiadas. Homens e mulheres travestidos. Pessoas por todos os lados pintando faixas, cartazes, levantado bandeiras. De apito, de mega-fone ou apenas com suas vozes, cantando, dentre outras canções: “eu como homem, como mulher, tenho o direito de comer quem eu quiser”. Pessoas de todas as partes da cidade, ou do estado, muitas nem se conheciam pessoalmente, mas estavam todas unidas pelo mesmo objetivo: GRITAR POR JUSTIÇA, LIBERDADE E RESPEITO. Esta é uma das possíveis visões da Marcha da Vadias.

Este ano, na cidade do Salvador, a Marcha das Vadias aconteceu numa data histórica. Além do tradicional desfile do Caboclo e da Cabocla, outros grupos organizados também se fizeram presentes e tornou a passeata um ato cívico e popular. Nesse sentido, a Marcha das Vadias, composta de mulheres, homens, trans, sujeitos marginalizados e outros tantos solidários à causa feminista, marcaram presença num importante movimento que não quer apenas “defender” mulheres, mas, sobretudo, lutar por direitos, por cidadania, para todas as pessoas, em suas infinitas expressões de vida.

Sendo assim, a Marcha das Vadias foi marcada não apenas por uma demanda feminista. Transcendeu. Abarcou causas identitárias e pós-identitárias. Sujeitos marginalizados ou hegemônicos. Nos rostos, nos cantos, nos olhos, na alegria, nas expressões, a busca era essa: LIBERDADE PARA EXISTIR!

Alguém me perguntou por que o termo “vadia”, e por que não “Marcha das Mulheres”. Eu respondi: por que ser VADIA traduz o grito preso na garganta de milhares de pessoas, um grito que pede para sair, um grito que quer dizer algo, que diz:


A MINHA EXPERIÊNCIA DE VIDA EXPRESSA A MINHA EXISTÊNCIA, ME RESPEITE PELA MINHA FORMA DE EXISTIR!







Texto: Mayana Rocha Soares
Revisão: Thais Souza
Fotografias: Rafael Vasconcelos
Postagem: Luiza Lopes Silva
(Clique aqui para conhecê-los)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Trilhas Culturais: Gêneros e Sexualidades


No dia 14 de Abril o Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais, NPEC, deu início a segunda temporada do Trilhas Culturais. Evento promovido com o intuito de debater temáticas as linhas de pesquisa do grupo.
No mês de Maio o Trilhas Culturais debateu temáticas ligada à linha de Gêneros e Sexualidades com as pesquisadoras Saoara Sotero e Mayana Soares. Duas adeptas da Teoria Queer, elas trouxeram para a luz da discussão, sob a perspectiva Queer temas considerados abjetos no meio acadêmico, como corpo como lócus performático, LGBT, gêneros, sexualidades, feminismo, relações, prazeres e práticas sexuais dissidentes. O termo queer era utilizado nos EUA de forma ofensiva contra os gays, no início dos anos 80 uma série de pesquisadores iniciou a teoria tomando para si o termo queer esvaziando-o do sentido negativo que tinha e criando uma categoria que pudesse compreender o mundo marginalizado das sexualidades dissidentes, ou seja, aquela que não está nos padrões estabelecidos socialmente como corretos. Não há uma tradução específica do termo para o português, mas segundo Louro (2004) o termo pode ser traduzido por estranho, talvez ridículo, excêntrico, raro, extraordinário”. A teoria queer não tem o objetivo de se tornar uma identidade, pelo contrário, a identidade tem um caráter normativo a medida que o sujeito precisa afirmar determinadas bandeiras. A teoria Queer defende que o sujeito social esta em constante transformação, portanto não pode estar conformado em determinados padrões que o impedem de expressar suas múltiplas formas de ser e estar.
Dentro desta perspectiva, no dia 19 de maio de 2012 a pesquisadora Saoara Sotero exibiu o filme Delta de Vênus. Esta obra é baseada no livro de contos erótico de Anais Nin. A autora foi diretamente influenciada pelas teorias freudianas no início do século XX, pela produção erótica da época e a cultura de produzir contos erótico sob encomenda, sendo esta última característica a origem do livro que da vida ao filme e não por coincidência é um atributo da protagonista do filme, assim, os contos são obras fictícias e ao mesmo tempo autobiográficas. O filme faz uma compilação dos diversos contos do livro e mostra a busca de sua protagonista, Elena, pela sua descoberta sexual, explorando as múltiplas possibilidades de sua autorrealização sexual. Esta descoberta ocorre depois de uma decepção amorosa e de um amor romântico idealizado e de ser provocada a escrever sobre sexo. Elena se permite explora seus desejos sexuais se tornando uma mulher consciente de sua sexualidade e de sua capacidade de se realizar sexualmente fora de um relacionamento monogâmico. Após o filme foram debatidos categorias fundamentais como gêneros, sexualidades, práticas sexuais dissidentes, autorrealização sexual e poliamor, sob a perspectiva queer e de autor@s como Butle e Benítez.
No dia 19 de maio de 2012 foi a vez de a pesquisadora Mayana Soares dirigir o debate a partir da exibição da entrevista do cartunista Laerte Coutinho ao programa Roda Viva. Laerte gerou polêmica ao aderir a indumentária feminina, e ao tentar, sem sucesso, usar o banheiro feminino em uma lanchonete, rompendo, pois, com os padrões sociais do que deve ser o comportamento masculino e feminino.
O cartunista foi submetido por quase duas horas a questionamentos sobre seu trabalho, mas o assunto principal girou em torno do fato de estar transgênero.
Durante a entrevista ficou visível o quanto os debatedores ficaram desestabilizados, sem saber como dialogar ou como se referir a Laerte. A forma “transitiva” como o convidado se põe, de se permitir experimentar as possibilidades existentes chocou os amigos que convive com ele há anos.
Através desta entrevista foi possível o debate, dirigido por Mayana Soares, das construções sociais a cerca de gêneros e da divisão binária, masculino e feminino, e dos papeis afetivos, comportamentais, psicológicos que são estabelecidos para casa um, divididos a partir da genitália. Entendendo esta questão pela teoria queer Laerte subverte a linha coerente da sexualidade que estabelece o gênero e o sexo a partir da genitália, masculino/homem, feminino/mulher, o desejo sexual que deve ser pelo sexo oposto e ter uma prática sexual heterossexual.
A linha de pesquisa Gêneros e Sexualidades cumpriu de forma louvável o seu objetivo de por em debate e de (re) formular concepções normatizadas e naturalizadas pela sociedade, quebrando com os paradigmas hierárquicos que constitui as relações sociais.

domingo, 22 de abril de 2012

Trilhas Culturais: Segunda Temporada!


           O Trilhas Culturais nasceu do desejo dos/as jovens pesquisadores/as, pertencentes ao Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais, em debater temas importantes para a sociedade, através de textos fílmicos, os quais dialogam, de algum modo, com os estudos culturais, e compartilhar suas experiências acadêmicas e pesquisas. Quizenalmente são realizados esses encontros, geralmente aos sábados à tarde. A mola propulsora é sempre um filme, do qual é possível repensar e resignificar a sociedade que vivemos. A análise de filmes, documentários, dentre outros textos, tem contribuído para que possamos compreender um pouco mais acerca de fenômenos socioculturais, econômicos, políticos e históricos que nos cercam na atualidade, nos inquietando e nos mostrando outras formas de lutas e resistências.


            Em 14 de abril de 2012 aconteceu o 1º encontro da segunda temporada do Trilhas Culturais, com a presença das pesquisadoras Luciana Reis, Luiza Lopes, Mayana Soares, Saoara Barbosa e Rai Trindade. Com certeza, um dos nossos encontros mais consistentes teoricamente, pois contamos com a apresentação e debate do texto de Renato Ortiz, Estudos Culturais, sob o comando da pesquisadora Saoara Barbosa, para que pudéssemos conhecer um pouco mais acerca daquilo que uni a todas/os: os estudos culturais.
Esta tendência, que vigora aqui no Brasil deste a década de 70, ainda tem muita resistência na academia, pois subverte os campos científicos delimitados e fechados em si mesmos, promovendo a multi e a transdisciplinaridade. Além de trabalhar com temas marginais, não tão bem quistos nos centros universitários. Sendo assim, os estudos culturais, que não se constituem em uma disciplina científica, mas numa tendência acadêmica, teórica e metodológica, tem em muito contribuído para agregar novos conhecimentos à humanidade.
Neste encontro do Trilhas, excepcionalmente, realizamos, após o debate sobre o texto de Ortiz, um link entre o texto estudado e nossas pesquisas, compreendendo melhor como elas se inserem neste campo do conhecimento. Como se trata de um núcleo multi e transdisciplinar, foram apresentadas duas pesquisas, a saber, das pesquisadoras Simone Borges (Historiadora e Cientista Social) e Luciana Reis (Comunicóloga), sobre Santo Antonio e o impacto da fé nos baianos e os modos de violências institucionalizadas no bairro do Engenho Velho da Federação, Salvador/BA, respectivamente.

sábado, 14 de abril de 2012

Divulgação EstOutros Cine Cena Unijorge

Banda EstOutros: Promoção Est'Outros Cine Cena Unijorge: PROMOÇÃO A Banda Est’outros abre o ano de 2012 com boas realizações. Uma delas é o Show Cênico Musical Essência que volta a cartaz em única...

sábado, 3 de março de 2012

Observatório registra 288 casos de discriminação no Carnaval

Durante os seis dias do Carnaval  em Salvador, 288 denúncias de casos de discriminação racial foram registradas pelos sete postos do Observatório da Discriminação Racial, Violência contra a Mulher e LGBT, implantados nos três circuitos oficiais da folia – Dodô, Osmar e Batatinha (Barra, Campo Grande e Pelourinho, respectivamente).  O Observatório é um órgão vinculado à Secretaria Municipal da Reparação (Semur).

O estudo revela que a cada dia da maior festa de rua do planeta, aproximadamente, 50 pessoas foram discriminadas em algum momento da folia, em um dos três circuitos oficiais. Além dos dados sobre racismo, o Observatório registrou, ainda, as denúncias de violência contra a mulher (188) e de homofobia (18 casos).

De acordo com o secretário municipal da Reparação Ailton Ferreira, os dados recolhidos pelo órgão possiblitam que determinados comportamentos sociais, que insistem em ser negados, possam ser revelados. “O racista não deixa de discriminar porque é Carnaval. Ele também veste abadá e vai para a rua. Por isso, o principal papel do Observatório é educar”, afirma Ailton Ferreira.

Denúncias
O número de denúncias aumenta a cada ano. Em 2011, foram registradas no Observatório 237 casos, 51 a menos que este ano, uma diferença de 21,5%. No Ministério Público da Bahia, entre os anos de 1998 e 2011, foram registrados 836 casos de injúria racista e de racismo.

Coordenador nacional da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Jerônimo Júnior, acredita que o aumento das denúncias é reflexo da conscientização da população: "O Carnaval é reflexo da sociedade. Por isso consideramos que não houve aumento, mas sim a percepção de uma realidade existente, pois a formação de nossa sociedade é racista",  explica o  Jerônimo.

As informações são do jornal A Tarde | Maíra Azevedo