quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ELEIÇÕES E INSTITUIÇÕES: EFEITO CASCATA


Por Marcelo Bloizi Iglesias

             Nesse ano de 2012, o Jogo do Bicho comemora seus 120 anos de existência. No início do período republicano o jardim zoológico, espaço de divertimento criado na década anterior no bairro de Vila Isabel na então capital do Império, passava por uma crise pelo fato de o seu administrador, o Barão de Drummond, não tirar lucros de tal empreendimento. Para tanto, conseguiu uma licença para a exploração de uma loteria dentro do seu negócio, e essa daria mais certo como empresa do que a própria atividade fim que fora o zoológico.

            Fato é que tal divertimento chegou a Salvador ainda na última década do século XIX como revelam notícias de periódicos de 1899, e como no Rio de Janeiro, sofreu com a perseguição durante (praticamente) toda a sua existência. Os ideais positivistas eram a ideologia predominante na sociedade oitocentista brasileira, e de forma alguma a população pobre, predominantemente negra e/ou de classes subalternas poderia se acostumar à dependência da sorte no jogo para ganhar a vida. A educação para o trabalho era a tônica daquela sociedade e nesse diapasão o Jogo do Bicho não durou muito tempo na legalidade, entre sua liberação e repentino sucesso até a sua perseguição houve um intervalo de apenas três anos.

            Durante toda a sua história, o Jogo do Bicho ganhou muitos simpatizantes, sendo lembrado em diversos momentos importantes de nosso país no século passado como uma representação da cultura popular e até questionado entre alguns intelectuais se não faria parte do nosso folclore. A figura do bicheiro, associada à do malandro, apareceu no cinema, nas novelas, no teatro, na música, na literatura sempre com uma construção em torno dos espaços populares da sociedade. Interessante como se forjam imagens e são criadas as representações numa coletividade. Todavia, estão sendo desconstruídas atualmente com o caso “Cachoeira” e o efeito cascata (com o perdão do trocadilho) sobre o Congresso Nacional, os partidos políticos, a polícia, grandes conglomerados de empresas nas quais o “manda-chuva” era envolvido, revelam o poder das instituições; e que Teoria da Conspiração é fato para os ingênuos que não querem enxergar que a falcatrua é geral no nosso país.

            Remeto nesse momento à Foucault e a maneira como ele interpreta o poder das instituições numa sociedade, e o Jogo do Bicho se fortaleceu em seus 120 anos se configurando como mais uma instituição, com normas próprias, com significância social e econômica na malha urbana das grandes metrópoles brasileiras. Um poder político muito grande está nas mãos dos bicheiros. O advento da Paratodos na década de 1980 padronizou a empresa em âmbito nacional, fazendo os banqueiros do jogo entrarem no rol dos bandidos de colarinho branco, mas ainda com o preconceito atinente à prática empresarial então tipificada como contravenção, já agora como crime em razão da inserção do Jogo do Bicho ser considerado lavagem de dinheiro.

            Hoje nos vemos estupefatos com as notícias do envolvimento do Congresso Nacional com os contraventores e troca de influências, favores e mesadas recíprocas. Não é de se assombrar, sabemos que o Congresso Nacional é um jogo de interesses das instituições, bem como os ministérios, a Câmara dos Deputados, a Câmara dos Vereadores, as secretarias de governo e municípios. Lembro ainda que além dos julgamentos do mensalão e do caso Cachoeira, estamos em ano de eleição e as mesmas instituições estão bancando campanhas milionárias (que todos sabemos) para serem favorecidas, e se a mídia quiser noticiarão as fraudes e crimes que essas cometerão nos próximos anos. Então, nas eleições 2012 façam suas apostas, pois as instituições já fizeram as suas...



Referências:
BRASIL. Lei das Contravenções Penais. 1941;
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder/ Michel Foucault; organização e tradução de Roberto Machado – Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979;
MAGALHÃES, Felipe. Ganhou, Leva!: o jogo do bicho no Rio de Janeiro (1890-1960)/ Felipe Magalhães – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.

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