CONSCIÊNCIA E RESISTÊNCIA NEGRA NO
BRASIL
Por
Mayana Rocha Soares[1]
Por
que será que não vemos negros e negras em altos postos de direção no país? Por
que será que não percebemos que a maior quantidade de pobres e miseráveis, em
todo o Brasil, segundo dados de 2009 do IBGE, é constituído pela população
negra? Por que será que o povo negro só é exibido na TV para discutir a questão
racial? Por que será que jovens negros e negras estão nas escolas públicas, as
quais, não coincidentemente, são precárias e não oferecem uma educação de
qualidade? Por que? Por que? Você já parou pra pensar nestas questões?
O
dia 20 de novembro foi instituído como feriado facultativo nos estados
brasileiros, um dia que nos convida, sobretudo, a refletir. A data lembra o dia
da morte de Zumbi dos Palmares, herói negro na luta contra a escravidão no
Brasil. A reflexão que precisamos fazer, não apenas nesta data, mas todos os
dias, é acerca dos problemas, até hoje, enfrentados pela população
afrodescendente deste país.
Entretanto,
é ainda mais válido comemorar as conquistas e vitórias que tivemos ao longo
desses anos. Melhores condições de vida, maiores salários, criminalização do
racismo, instituição da Lei 10.639/2003 nos Parâmetros Curriculares Nacionais,
tornando obrigatório o ensino da História e Culturas da África e dos africanos,
as lutas e a importância do povo negro na construção do povo brasileiro, são
algumas dos importantes triunfos da sociedade brasileira.
Desse
modo, é importante ressaltar que tais conquistas compõem não apenas a vitória
do povo negro, mas sim o sucesso da cidadania e da democracia. Não se pode
negra que muito ainda há que se conquistar, e, por isso, muita luta ainda há
por vir, mas, no entanto, como diria Stuart Hall (2003), continuemos a
“deslocar as posições de poderes e democratizá-las”.
Referências
IBGE. http://www.ibge.gov.br/home/
HALL, Stuart.
Da diáspora. Identidades e Mediações culturais. Belo Horizonte :
Editora UFMG,
2003.
[1]
Especialista em Estudos
Culturais, História e Linguagens. Possui graduação em Letras com Língua
Espanhola. Atualmente, é professora, técnica educacional, pesquisadora no
Núcleo de Pesquisa Estudos Culturais (NPEC) e participa do grupo de pesquisa
Cultura e Sociedade (CUS). myrs_84@hotmail.com.
Acredito Mayana que os "por ques" a história já se incumbiu de responder, temos uma história de mais de 300 anos de escravidão, rompemos com os grilhões das gargalheiras e algemas de ferros a que os negros(as) escravizados (as) eram submetidos, mas ainda não rompemos com essa tradição escravagista e paternalista que ainda paira em nosso imaginário.
ResponderExcluirAinda somos tentados a imaginar que lugar de mulher negra é na cozinha e na cama do homem branco, para saciar todos os prazeres, ao tempo que isenta a mulher branca para a conquista do espaço político. Ao jovem rapaz negro os tiros de pistola e calibre 12 que os torna "marginais" antes mesmo de nascer. Como canta Elis Regina: "Compra laranja, laranja doutor, que ainda dou uma de quebra pro senhor". Entenda-se essa laranja como o avião que sobe e desce o morro todos os dias para a garantia de sua sobrevivência, ainda que a margem.
Mas é verdade, já obtivemos conquistas, vale destacar a legitimidade da política de ações afirmativas ao ingresso no ensino superior através das cotas. É preciso ainda mais lutas, pois estas conquistas ainda são ínfimas diante do quadro social de apartheid velado que a sociedade, sobretudo a baiana, ainda relega seus cidadãos(ãs) negros(as) que cada vez mais ocupam os espaços públicos na tentativa de furar a barreira até alcançar os espaços de poder.
Simone dos Santos Borges
Historiadora, Educadora e Cientista Social (em formação).