terça-feira, 20 de novembro de 2012


CONSCIÊNCIA E RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL

Por Mayana Rocha Soares[1]

Por que será que não vemos negros e negras em altos postos de direção no país? Por que será que não percebemos que a maior quantidade de pobres e miseráveis, em todo o Brasil, segundo dados de 2009 do IBGE, é constituído pela população negra? Por que será que o povo negro só é exibido na TV para discutir a questão racial? Por que será que jovens negros e negras estão nas escolas públicas, as quais, não coincidentemente, são precárias e não oferecem uma educação de qualidade? Por que? Por que? Você já parou pra pensar nestas questões?

O dia 20 de novembro foi instituído como feriado facultativo nos estados brasileiros, um dia que nos convida, sobretudo, a refletir. A data lembra o dia da morte de Zumbi dos Palmares, herói negro na luta contra a escravidão no Brasil. A reflexão que precisamos fazer, não apenas nesta data, mas todos os dias, é acerca dos problemas, até hoje, enfrentados pela população afrodescendente deste país.

Entretanto, é ainda mais válido comemorar as conquistas e vitórias que tivemos ao longo desses anos. Melhores condições de vida, maiores salários, criminalização do racismo, instituição da Lei 10.639/2003 nos Parâmetros Curriculares Nacionais, tornando obrigatório o ensino da História e Culturas da África e dos africanos, as lutas e a importância do povo negro na construção do povo brasileiro, são algumas dos importantes triunfos da sociedade brasileira.

Desse modo, é importante ressaltar que tais conquistas compõem não apenas a vitória do povo negro, mas sim o sucesso da cidadania e da democracia. Não se pode negra que muito ainda há que se conquistar, e, por isso, muita luta ainda há por vir, mas, no entanto, como diria Stuart Hall (2003), continuemos a “deslocar as posições de poderes e democratizá-las”.

Referências
IBGE. http://www.ibge.gov.br/home/

HALL, Stuart. Da diáspora. Identidades e Mediações culturais. Belo Horizonte :
Editora UFMG, 2003.


[1] Especialista em Estudos Culturais, História e Linguagens. Possui graduação em Letras com Língua Espanhola. Atualmente, é professora, técnica educacional, pesquisadora no Núcleo de Pesquisa Estudos Culturais (NPEC) e participa do grupo de pesquisa Cultura e Sociedade (CUS). myrs_84@hotmail.com.

Um comentário:

  1. Acredito Mayana que os "por ques" a história já se incumbiu de responder, temos uma história de mais de 300 anos de escravidão, rompemos com os grilhões das gargalheiras e algemas de ferros a que os negros(as) escravizados (as) eram submetidos, mas ainda não rompemos com essa tradição escravagista e paternalista que ainda paira em nosso imaginário.

    Ainda somos tentados a imaginar que lugar de mulher negra é na cozinha e na cama do homem branco, para saciar todos os prazeres, ao tempo que isenta a mulher branca para a conquista do espaço político. Ao jovem rapaz negro os tiros de pistola e calibre 12 que os torna "marginais" antes mesmo de nascer. Como canta Elis Regina: "Compra laranja, laranja doutor, que ainda dou uma de quebra pro senhor". Entenda-se essa laranja como o avião que sobe e desce o morro todos os dias para a garantia de sua sobrevivência, ainda que a margem.

    Mas é verdade, já obtivemos conquistas, vale destacar a legitimidade da política de ações afirmativas ao ingresso no ensino superior através das cotas. É preciso ainda mais lutas, pois estas conquistas ainda são ínfimas diante do quadro social de apartheid velado que a sociedade, sobretudo a baiana, ainda relega seus cidadãos(ãs) negros(as) que cada vez mais ocupam os espaços públicos na tentativa de furar a barreira até alcançar os espaços de poder.

    Simone dos Santos Borges
    Historiadora, Educadora e Cientista Social (em formação).

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